Uma Vez
Eu me lembro da
primeira vez que me apaixonei por você.
Você estava
atravessando a rua, sob aquele céu cinzento, com o frio gélido acariciando seu
pescoço desnudo, sua roupa feita de crochê, pois você era a favor do
artesanato, principalmente aquele artesanato feito pelos idosos do centro de
convivência que ficava na cidade vizinha. Mas você nunca se importou de ir até
lá, muito pelo contrário, você até gostava.
Eu vi você andar
pela calçada, usando seus fones de ouvidos cor de rosa que escorregavam para
dentro de seu capuz surrado, feito de lã.
Eu observei
enquanto os flocos de neve caiam ao seu redor, formando pequenos cristais
cintilantes que adornavam sua roupa.
E também vi, quando
você parou subitamente em frente a uma cafeteria qualquer, com o brilho das
luzes piscantes que enfrentavam a vitrine e o resto da rua também. Você parou
por sentir o cheiro do café, dos bolinhos e da gordurosa chapa de grelhar.
Foi quando eu
juntei, finalmente, toda a informação que eu precisava sobre você, fui em
direção ao café, que ao meu ver era mais uma espelunca naquela cidade pequena e
abandonada pela diversão e o senso de humor.
Você, obviamente,
não me viu entrar e sentar no banco acolchado atrás de você. Eu quase podia
tocá-la. Eu sentia o cheiro de jasmim que perfumava seus cabelos, podia até
imaginar o salgado do seu sangue borbulhando em suas veias, sentia o calor que
irradiava de você, porém, tudo o que você via era a xícara fumegante de café
que a garçonete magricela, com um cabelo tingido de preto e muitos piercings no
rosto, acabara de trazer pra você.
Dois cubos de
açúcar e um pouco de creme. Foi o que você colocou no café. Porém, como eu
estava ficando impaciente de somente observar você, me levantei e sentei no
banco acolchoado a sua frente. Estávamos finalmente frente a frente, e tudo o
que você disse foi:
- Desculpe... Posso
ajudá-lo?
Ah, se você pudesse
ao menos pensar em quantas maneiras diferentes você poderia sim me ajudar.
Ajudar a conter aquilo que eu mesmo pouco entendia, que se remexia com
selvageria dentro de mim, acendendo aquela sensação estranha, fora de controle.
- Depende do que
você está disposta a fazer - respondi, já me sentindo idiota pela abordagem incisiva. Mas, vi o lampejo de excitação que passou pelos seus olhos. Porém, tão
rápido quanto apareceram, assim se dissiparam, e você sorriu, como se aquilo
fosse uma piada.
E aí começou a
nevar. Neve caía por todo lado, lá fora. Você olhou pela janela, quase
hipnotizada com o brilho gelado que caia, observava, e por um momento esqueceu
que eu estava ali, esqueceu que eu era um estranho, e buscou minha mão através
da mesa enquanto olhava para o lado de fora, e a segurou.
Você sempre fazia
isso nas noites de Natal. Você acolhia qualquer um que parecia estar perdido e
vazio, solitário. E o acolhia. E era por isso que eu estava ali. Eu te
conhecia.
- Você quer sair
daqui? - perguntei.
Ela olhou para mim
como se eu fosse louco e riu.
- O que te faz
pensar que eu gostaria de ir para outro lugar? - respondeu ela. Seus lábios
eram rosados, mas não tão rosados iguais suas bochechas estavam naquele
momento.
Eu somente a olhei.
Por um segundo me permiti olhá-la, de frente, tão perto.
Preciso me concentrar. Estou perdendo o
foco. Pensei.
- Pois é Natal, e
você está sozinha. - Respondi, tentando não parecer desesperado. - E, pode
parecer loucura, mas eu sinto que te conheço.
Você suspira, e olha
para nossas mãos, ainda juntas. E eu sei, imediatamente que ela sente a mesma
coisa.
- Você poderia ao
menos me dizer seu nome? - você
pergunta, quando solta minha mão para pegar sua bolsa e pagar pelo café.
- Deixe que eu
pago. - digo. E coloco qualquer nota que tenho no bolso.
- Uau. Você tem
certeza que vai pagar cem dólares por um café e um muffin? - Você ri.
Apenas dou de
ombros e acompanho você até o lado de fora da lanchonete. Fecho os olhos quando
uma onda gelada, e flocos de neve me atinge. Aperto o casaco contra o corpo, e
você faz o mesmo.
- Você vem sempre
aqui? - Você pergunta quando eu lhe ofereço o braço e vamos passando pelas lojas
fechadas, me lembrando de crianças adormecidas após uma tarde brincando o dia
todo no parque.
- Hm... Não costumo
sair de casa. Acabo de me mudar. - respondo. - E você? Vem sempre aqui?
- Está me
perguntando se sempre saio com homens que não conheço? - Você ri. Sua risada é
linda.
Eu fico sem graça e
você percebe. Por isso me da um empurrãozinho.
Caminhamos até o
parque. Conversamos sobre tudo. Religião, política, música. Tudo. Você tinha
uma opinião formada sobre tudo o que conversávamos. E não me lembro de ter
escutado você se esquivar de uma conversa.
Você era corajosa.
E eu amava isso em você.
Quando chegamos ao
parque, entramos no velho coreto, aonde eu convenci você a dançar comigo. Nós
dançamos sem música. Eu sentia aquela familiaridade com você, e você sentia o
mesmo. Nós não queríamos que aquele momento acabasse.
E foi, naquela
noite de Natal, em que eu me apaixonei por você.
Lindo, maravilhoso, incrível. Parabéns Vii ❤
ResponderExcluirObg pelo apoio Dessa ❤️
ExcluirLindo, perfeito Vih, amei :)
ResponderExcluirViii parabéns pelo talento eu amei ^^
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